18 de jul. de 2012

Energia 'oculta' em bens triplica o gasto de brasileiro com luz


Para cada R$ 100 pagos na conta de luz, o consumidor brasileiro gasta, sem saber, outros R$ 200 com energia.


Esse é o custo da eletricidade que vem embutido no preço dos serviços utilizados e dos bens consumidos.

O cálculo foi feito pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas), no primeiro estudo brasileiro a medir o peso da energia contida em itens como carros, imóveis, batedeiras ou salões de cabeleireiros.

A Fipe usou uma metodologia desenvolvida pela União Europeia, chamada WIOD (World Input-Output Database).

Segundo o trabalho da fundação, a conta de luz representa apenas 32% de todo o custo de energia elétrica pago por uma família.

A maior parte (53%) está embutida nos preços de mercadorias e serviços contratados pelos consumidores. Os outros 15% estão incluídos nos preços de serviços públicos, como o transporte.

O trabalho da Fipe mostra que, para cada real pago na fatura de energia, o consumidor desembolsa outro R$ 1,68 para custear a energia escondida nos bens. No cálculo, a fundação usou o perfil de consumo da Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE.

Classe C é prejudicada

Fernando Garcia de Freitas, um dos formuladores do trabalho, diz que a mudança de padrão de consumo das classes emergentes traz escondida um alto custo de energia. "Quando um consumidor troca a cachaça pela cerveja em lata de alumínio, está aumentando o consumo indireto de energia. É assim que a energia cara penaliza a nova classe de consumo."

O estudo foi patrocinado pelo Projeto Energia Competitiva, que reúne a associação de grandes consumidores e órgãos de defesa do consumidor, com o objetivo de levantar informações para convencer governo e Congresso a desonerar a eletricidade.

Entre os segmentos que participam do projeto estão as indústrias química, vidreira, de aço, de alumínio, de cloro e de ferro-liga.

Embora esses setores sejam grandes consumidores diretos de energia, há outros em que o peso indireto é muito grande.

No caso da indústria de construção, por exemplo, para cada R$ 100 de conta de luz, outros R$ 4.690 são pagos indiretamente no custo dos materiais usados.

Mais crescimento

O estudo também calculou os efeitos na economia brasileira da desoneração total (extinguir todos os encargos para consumidores industriais, comerciais e residenciais) e da parcial (em que só os consumidores industriais seriam beneficiados).

De acordo com Freitas, a desoneração total resultaria em aumento de R$ 181 bilhões no consumo, em até dez anos. Desse total, R$ 70 bilhões estariam nas mãos das famílias.

A simulação feita pela Fipe projeta um PIB 5,7% maior do que o atual (R$ 236 bilhões a mais), uma oferta de 4,5 milhões de empregos, uma exportação R$ 10,4 bilhões maior e uma capacidade adicional de investimento de R$ 53,2 bilhões.

Outros impactos positivos, como a queda da inflação, aconteceriam imediatamente após a queda do custo.

Governo prepara pacote para reduzir a tarifa

O governo federal trabalha para enviar ao Congresso um pacote de medidas para reduzir o custo da energia elétrica no país.

Dentre as mudanças negociadas está a redução de tributos -quase a metade do custo da energia se deve aos 12 impostos e aos 11 encargos setoriais.

Um problema é que o governo não tem poder sobre o tributo que mais onera a conta de luz, o ICMS, de competência estadual e responsável por cerca de 20% do custo.

Por isso, estão em curso negociações para tentar convencer os Estados a dar sua parte de contribuição, reduzindo esse imposto.

Da parte do governo federal, devem ser retirados alguns dos 11 encargos, que representam mais de 8% dos R$ 100 bilhões arrecadados anualmente pelo setor elétrico.

A outra medida em projeto, de médio prazo, visa exigir preço mais baixo na renovação das concessões das distribuidoras, transmissoras e geradoras.

Até 2015, 9 transmissoras, 47 distribuidoras e 67 geradoras terão os contratos expirados. O governo quer permitir a renovação das concessões, sob condição de que os custos sofram uma redução.

A expectativa dos grandes consumidores industriais é que os projetos reduzam o preço da energia em até 12%.

Fonte: Folha de S.Paulo / por Fenacon
Escrito por: Agnaldo Brito

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