30 de jul. de 2012

Diminui a 'mortalidade infantil' de micro e pequenas empresas


Sete em cada dez micro e pequenas empresas que abrem as portas no país conseguem sobreviver aos dois primeiros anos de atividade.

Antes de 2005, metade dos novos negócios abertos não conseguia sobreviver a esse período de dois anos.

O aumento da escolaridade dos empreendedores, a diminuição da carga tributária, as mudanças na legislação e o crescimento da economia nos últimos anos são alguns dos principais responsáveis pela melhora do indicador.
As informações foram compiladas pelo Sebrae nacional a partir de registros da Receita Federal em quase 1 milhão de empresas abertas em 2005/ 2006 e monitoradas por quatro anos.

A taxa de sobrevivência das micro e pequenas empresas do Brasil supera a da Itália e está próxima da do Canadá. O que permitiu ao país chegar a esse patamar é o fato de empreendedores estarem mais profissionalizados e buscarem se capacitar, diz Jairo Martins, superintendente da FNQ (Fundação Nacional da Qualidade), entidade privada criada por representantes de 39 organizações dos setores público e privado.

É o caso de Raquel Cruz, que, em 2001, deixou o cargo de secretária-executiva, exercido por 15 anos em multinacionais, para montar a Feitiços Aromáticos.

Depois de criar aromas com ajuda de uma empresa terceirizada e distribuir colônias no porta-malas do carro, voltou a estudar, formou-se técnica em química e fez pós-graduação em cosmetologia para melhorar a qualidade dos produtos que fabricava.

"Enquanto esperava registros e cumpria exigências da Anvisa, fui estudar. Não só química. Aprendi também a controlar caixa, estoque e até qualidade e inovação", diz.

Os R$ 40 mil investidos para montar a empresa se transformaram em uma indústria na zona leste, com 20 funcionários, faturamento anual de R$ 3,5 milhões, clientes em 3.000 pontos de venda do país, além de em Portugal, na Espanha e no Chile.

"O empresário montava seu negócio sem olhar para os clientes nem para o mercado. E o resultado não podia ser outro: 'quebrava a cara'. Agora, planejamento e gestão fazem parte do vocabulário", diz Martins.

Com a melhora na renda, 40 milhões de brasileiros passaram a consumir e a demandar mais serviços e produtos, diz Luiz Barretto, presidente do Sebrae. "Para atendê-los, os empreendedores foram ao mercado em busca de oportunidade, e não por necessidade", diz Barretto.


Bancos criam produtos e serviços para facilitar gestão
Juliana Elias - Colaboração para a Folha

De olho num setor que cresce rapidamente, bancos estão criando produtos e serviços específicos para micro, pequenas e médias empresas.

O objetivo é ir além de linhas de financiamento e crédito e passar a dar atendimento especial, consultoria de negócios, ferramentas para acompanhar a gestão e plataformas de venda digital, entre outros (veja quadro).

"Há dez anos, tínhamos um cenário completamente diferente", diz o gerente de mercado e serviços financeiros do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Alvim. "De um lado, as empresas reclamavam da falta de linhas de crédito, e, de outro, os bancos se queixavam da falta de estrutura das pequenas empresas."

Os problemas passavam pelo alto índice de informalidade e insegurança dessas empresas, pela falta de caixa e pela dificuldade em fornecer garantias na tomada de um empréstimo.

Clientes em ascensão

Muito dessa natureza ainda permanece, mas a relação entre os dois lados evoluiu. Os bancos que abriram mais espaço ao nicho se beneficiam do fato de as empresas menores ganharem com o mercado interno, enquanto as grandes, mais suscetíveis ao mercado externo, bambeiam com a crise internacional.

No Banco do Brasil, por exemplo, são as micro e pequenas que vêm puxando o crescimento da carteira de crédito --até o primeiro trimestre, subiu 24,3% em 12 meses, o dobro dos 12,6% das médias e grandes e dos 13% dos clientes pessoa física.

No Bradesco, que divulgou na semana passada os resultados do segundo trimestre, o movimento é semelhante. A previsão do banco é que o segmento, que vem estabilizando os índices de inadimplência, cresça até 20% neste ano na carteira de crédito.

É uma expansão maior que os 17% das grandes empresas, fatia em que a falta de pontualidade dos pagamentos, por outro lado, subiu.

Os micro e pequenos precisam de mais atenção e orientação financeira, avalia Dário Castro de Araújo, superintendente nacional de MPEs da Caixa Econômica Federal. Essas empresas representam 85% dos clientes jurídicos do banco e responderam por um aumento de 50% na tomada de crédito entre o 2011 e 2012, considerando o primeiro semestre.

"Diferentemente das empresas de grande porte, que apresentam uma forte governança corporativa, as micro e pequenas se preocupam menos e têm menos recursos para isso", diz.
Instituições públicas, como a Caixa, o BB e os regionais Banco do Nordeste e o Banco da Amazônia, saem na frente com as melhores condições de preços e juros, muitas vezes subsidiados.

Por outro lado, ressalta Alvim, do Sebrae, os bancos privados vêm sendo forçados a correr atrás da concorrência e ganham em agilidade e menos burocracia.

"O mercado está aquecido e a concorrência é forte, o que deixa as condições favoráveis para o cliente", diz Alvim. "O que o pequeno empresário tem de fazer é pesquisar bem todas as opções, antes de contratar qualquer coisa, e usar o poder de barganha que a concorrência aquecida proporciona."

Editoria de Arte/Folhapress

Segredo é ser diferente e ter foco, sugere quem prosperou
Claudia Rolli - de São Paulo 

Aos dez anos de idade, Nathaniel José Vieira Pereira viu o pai perder a mercearia que tinha na cidade de Ipatinga, interior de Minas, por não saber administrar o negócio.

O impacto da falência ficou guardado como lição. "Saí determinado a estudar para que aquilo não voltasse a acontecer", diz ele, hoje aos 38.

Anos mais tarde, em 1989, tornou-se sócio de um escritório após terminar o curso de ciências contábeis.

Em uma sala de 30 metros quadrados montada no fundo do quintal de uma casa, com cadeiras, estantes e mesas cedidas por amigos, nascia a NTW Contabilidade e Gestão Empresarial, em parceria com um amigo.

Hoje são seis unidades --três filiais próprias e três franquias-- e 700 candidatos a abrir um escritório da marca em todo o país, além de propostas na Argentina, em Portugal e em Moçambique.

"Desde pequenos, pensávamos e agíamos como uma grande empresa, com profissionalismo. Não há fórmula nem mágica para dar certo: tem de ter foco."

Ao montar o negócio, a primeira decisão foi oferecer serviços contábeis e de gestão para escolas e universidades --o pacote incluía desde informações sobre legislação tributária e compromissos fiscais até indicadores que permitissem melhorar o negócio.

"Para as universidades, criamos uma maneira de avaliar e acompanhar os resultados dos cursos. Um método que permite, com base no número de inscritos no vestibular, projetar a lucratividade do curso até a formatura de cada turma", diz.

São 70 funcionários para atender 700 clientes, entre eles quatro universidades mineiras --a empresa criou uma divisão para atender exclusivamente o setor de educação.

"Resolvi entender como o mercado tratava a informação contábil e me colocava no lugar de quem precisava da informação. Resolvi trabalhar sob medida, como um 'alfaite' fiscal."

A partir da experiência com educação, a empresa começou a desenvolver serviços para o segmento de saúde, postos de combustíveis e construção civil, entre outros.
"Atendo desde microempresas até a Petrobras."

Com alguns prêmios no currículo, a empresa assessora agora companhias chinesas que pretendem investir no Brasil. "Participamos da maior feira de negócios na China e os empresários de lá nos contrataram para entender a complexa legislação do país. O que é burocracia para eles é negócio para a NTW", diz o empresário.

Assim como Pereira, um terço dos cerca de 2.000 empresários entrevistados em uma pesquisa do Sebrae-SP decidiu abrir uma empresa por identificar uma oportunidade no mercado.

E, entre as que se mantêm no mercado, 43% recomendam oferecer produtos e serviços diferenciados como a forma de atrair mais clientes e prosperar.

Alex Furtado, dono da agência de viagens Ar Bonito, em Mato Grosso do Sul, segue a receita há nove anos. Mantém a empresa aberta 24 horas para atender os clientes. "Agências são muitas. Mas para poucas você pode ligar às 3h e pedir para montar um pacote."

Depois de velejar pelo mundo por dez anos e trabalhar como free-lancer, decidiu montar a Ar Bonito.

Das reuniões semanais com os funcionários surgem novas ideias, metas e planejamento. "Temos uma fábrica de ideias, uma ferramenta que permite a todos responder a 20 perguntas sobre a empresa e como conduziriam o negócio. As sugestões se transformam em ações", diz.

Fora a matriz, já tem duas filiais, em João Pessoa e São Paulo, além de trabalhar com o que chama de "agentes remotos" em seis capitais. "Laura, a primeira vendedora que me acompanha na agência, trabalha de pijama em casa, em Mogi-Mirim. Ela teve de mudar fisicamente, mas continua comigo."

São 82 funcionários diretos e 400 indiretos --profissionais que prestam serviço a clientes. "Comecei com R$ 50 mil. Hoje administramos dois hotéis, dois restaurantes e temos um faturamento médio de R$ 7 milhões por ano."

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País vive 'apagão' de gestão empresarial
Claudia Rolli - de São Paulo

Sem conhecer a concorrência e o mercado em que pretende atuar, não há como atrair clientes. Sem atrair clientes, não há como ter capital para manter as portas abertas.

O que parece óbvio ainda é o principal motivo que leva as empresas a fechar as portas: falta de planejamento financeiro e estratégico.

"Assim como se fala em apagão de mão de obra, no país há também o apagão de gestão empresarial. A competição é acirrada, as mudanças tecnológicas, constantes. Não há como se manter no mercado se você não entende o seu negócio", diz Luiz Barretto, presidente do Sebrae.

Marcelo Nakagawa, coordenador do centro de empreendedorismo do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), concorda. "Tem de colocar no papel os custos, os equipamentos necessários, seguir um plano de negócios, elencar clientes, conhecer concorrentes, fornecedores, a estrutura de produção, de custos. Muita gente pensa que é investir e pronto", diz o professor. "Uma pessoa leva até os 20 e poucos anos para conseguir aprender a se sustentar financeiramente e pagar suas contas. Com uma empresa, não é diferente. Tem um tempo para isso."

Amigos x Negócios

Entre os motivos que levam as empresas a fechar as portas também está o conflito entre os sócios.

"Há momentos de paz e de guerra. O mais indicado é fazer um contrato, mesmo que seja de gaveta, esclarecendo as responsabilidades e as obrigações de cada um", afirma o professor.

Enquanto os sócios ficam brigando para ver quem tem a maior participação, a empresa não tem dinheiro nem para pagar as contas, diz Nakagawa.

Empresa x Empresário

Além de separar as funções de cada sócio, a recomendação é para que os empreendedores separem o patrimônio da empresa do pessoal.

Seis em cada dez empresas que fecham as portas perdem recursos e parte dos empreendedores não consegue recuperar o investimento.

Em São Paulo, dados divulgados em agosto de 2010 pelo Sebrae-SP mostram que a perda em média era de R$ 26,4 mil.

A maioria dos empreendedores que encerram seu negócio volta ao mercado como empregado com carteira assinada.

Fonte: Folha de S.Paulo / por Fenacon
Escrito por: Claudia Rolli

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