Antes de optar pela portabilidade bancária por causa da redução
das taxas de juros, a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor
(Proteste) orienta que clientes procurem informações adicionais e
analisem também o valor de outros Serviços que impactam o custo final.
Ao contrário do que tem sido amplamente divulgado nas campanhas
publicitárias dos programas BomPraTodos, do Banco do Brasil, e Caixa
Melhor Crédito, da Caixa Econômica Federal, nem todos os consumidores
interessados poderão, de fato, se beneficiar das reduções nas taxas de
juros de algumas linhas de crédito. Além disso, informações
desencontradas e incompletas caracterizam a busca por esclarecimentos
sobre os programas nos dois bancos públicos.
A Gazeta do Povo visitou quatro agências na condição de cliente –
duas do Banco do Brasil e duas da Caixa – e constatou que, embora os
bancos afirmem não haver distinção entre clientes novos e antigos na
aplicação das taxas, algumas delas estão necessariamente atreladas aos
níveis de relacionamento do cliente com a instituição. Ou seja: novos
correntistas podem ter acesso às taxas reduzidas, porém, não nos mesmos
patamares ou mesmo período de tempo.
Na Caixa, o folder publicitário do programa informa que o taxa
mínima do cheque especial é de 1,35% ao mês. Além de não informar a taxa
máxima (que é de 4,27% ao mês), um número que remete ao pé da página
ressalta que a taxa varia de acordo com o nível relacionamento. Para
quem não aderir ao novo programa, a taxa do cheque especial segue em 8%
ao mês.
Tanto no Banco do Brasil quanto na Caixa, o acesso às novas taxas é
facilitado para quem já possui conta-salário ou recebe benefício ou
aposentadoria na instituição. Quem não se encaixa nestas categorias é
orientado a pedir a transferência da conta para os bancos em questão.
Também não é possível, segundo os funcionários de ambos os bancos, fazer
simulações das taxas de empréstimos ou financiamentos de veículos, sem
antes transferir ou abrir uma conta nos referidos bancos. Quem busca
comparar taxas e tarifas para uma possível portabilidade de Serviços
bancários, por exemplo, consegue apenas informações insuficientes, que
podem levar a uma decisão precipitada e ruim para o bolso.
No Banco do Brasil, por exemplo, os funcionários das duas agências
não deixaram claro que correntistas e novos correntistas que se encaixam
nas modalidades de crédito consignado para servidores públicos e cheque
especial não precisam aderir a um dos cinco pacotes de Serviços do programa. Por outro lado, para as modalidades de financiamento de bens, automóveis, Capital de giro e crédito consignado do INSS, a adesão é obrigatória.
Quem faz a adesão a um dos cinco pacotes do programa –
beneficiários do INSS (R$ 6,70), econômico (R$18), especial (R$ 30),
completo (R$ 34) e pleno (R$54) – paga, entre outros serviços, por uma
assessoria financeira do banco, que passará a readequar automaticamente
suas operações às melhores taxas de juros da instituição.
Na Caixa, a nova taxa de 2,85% ao mês no rotativo do cartão de
crédito estaria valendo apenas para quem aderir ao novo cartão Caixa
Azul, criado junto com o programa de redução. No folder publicitário do
programa, no entanto, não consta essa informação, e a taxa mínima do
crédito rotativo é de 3,97%. Já a taxa anunciada a partir de 1,99% para
cartão de crédito vale apenas para o parcelamento das compras em até 36
vezes. Assim, quem possui outros cartões do banco está sujeito a taxas
bem mais elevadas que as anunciadas.
Confira algumas dicas da Proteste:
• 1 - Vale a pena tentar negociar condições melhores na
instituição da qual já é cliente. Quem tem vários produtos no mesmo
banco, como seguros e aplicações financeiras, tende a ter maior poder de
barganha quando precisa de um financiamento.
• 2 - A decisão sobre permanecer cliente de uma instituição ou
migrar para outra deve levar em consideração outros aspectos além dos
juros cobrados nos financiamentos. É preciso analisar, por exemplo, os
preços dos pacotes de tarifas de cada banco.
• 3 - As melhores condições para se beneficiar dos juros baixos na
Caixa e no Banco do Brasil são ofertadas para os clientes que vierem de
outras instituições por meio da conta-salário, mecanismo criado pelo Banco Central que permite ao cliente levar seu salário para o banco de sua preferência desde 2006.
• 4 - Com os bancos públicos ofertando taxas de juros menores, é
hora de tomar a iniciativa, procurar o gerente de sua conta e barganhar
uma taxa menor. O gerente não vai querer perder um bom cliente. Se essa
tática não funcionar, mudar de banco pode ser uma boa opção, porém não
sem antes pesquisar bem.
• 5 - Lembre-se que com a portabilidade bancária, em vigor desde
2006, além da transferência do salário é possível também transferir
dívidas de um banco para outro. A operação não tem custos tributários
nem tarifa para transferência. Cobranças de multas também não são
permitidas.
• 6 - Contudo, ao avaliar se a mudança vale a pena é preciso ter bastante atenção e procurar saber quais os Serviços
e tarifas precisam ser contratados para ter acesso aos juros menores.
Tais cobranças podem encarecer o crédito e tornar a vantagem dos juros
menores nem tão vantajosa assim.
• 7 - Lembre-se que não basta ir ao banco ou até mesmo fazer a
transferência da conta-salário para ter acesso a taxas mais baixas. A
definição da Taxa de Juros
cobrada depende de uma série de fatores, como, por exemplo, uma ampla
análise de crédito e da verificação do nível de relacionamento do banco
com o cliente. Saiba que em muitos casos as atrativas taxas divulgadas
são as mínimas e que conseguir contratá-las está condicionado a uma
série de fatores, entre eles, o tempo de relacionamento com o banco.
Vigência
Enquanto o banco anuncia, por meio de campanhas publicitárias, que
os pacotes do BomPraTodos já estão disponíveis aos correntistas, na
descrição do pacote, no site da instituição, a data da vigência está
prevista apenas para o dia 4 de maio. Ou seja, ele ainda não estaria em
vigor. Na Caixa, a situação seria a mesma, segundo informações da
Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste). Em
levantamento feito pela entidade em agências do Rio de Janeiro e de São
Paulo, além de taxas diferentes em agências da Caixa para o
financiamento de veículos, os juros mínimos da operação estariam
disponíveis somente para três meses depois da abertura da conta.
Fonte: Gazeta do Povo
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